quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Aroma do Pecado

Dizem que os deuses são dotados de imenso poder. Mas, também lhes é concebido inúmeros deveres. A mim, foram destinados duas grandes obrigações. Uma delas era cuidar de meus filhos. Sete, no total. Deve imaginar que para um Deus é uma tarefa fácil, mas acredite, não é. Minhas sete peculiares crias. São estes os conhecidos como os sete animais sagrados. O Porco, o Panda, a Cobra, o Coelho, o Lobo, o Macaco e finalmente o Leão. Hoje, me pergunto qual destas sete maliciosas miniaturas me motivou a agir como tal. Imagino se não tenha sido apenas uma grande cilada trapaceada pelo meu filho mais velho. Sim, muito possível. Meu garoto impetuoso e imperial, o Leão, que pode ter sido ajudado por sua preciosa irmã, a Cobra. Sempre imaginei o quanto estes dois planejavam às minhas costas. Sempre preparados para me apunhalar em uma jorrada inesperada de surpresas. A garota, ah, esta sim tinha motivos para querer que eu abandonasse meus preciosos troféus.

Vocês devem estar se perguntando quais troféus são estes que exigem de mim tal zelo e mimo. Pois então lhes explicarei. Sou um Perfumista. O Deus especialista na mistura de fragrâncias das mais inúmeras e variadas essências. Não um perfumista qualquer. Ora, que absurdo, afinal, sou uma divindade. Já extraí o cheiro de flores, animais, pedras e até mesmo da água. Sim, acreditem, neste mundo tudo tem seu cheiro. E eu, como um perfumista, tenho que amar a todos os cheiros como bênçãos da natureza. Mas, meus filhos não pensam o mesmo. Eles sentem-se trocados pelas minhas preciosidades. Meus frascos dos mais puros odores.

Talvez seja por isto que eles recorreram à ajuda do Grande Pai a me obrigar a tomar uma decisão. Este, que devem imaginar, é o Deus dos Deuses. Ele exigiu de mim um preço muito alto a pagar por deixar a desejar o carinho e afeto que filhos deveriam receber de um pai. Fez com que eu distribuísse minhas sete principais fragrâncias entre meus sete filhos. Não podendo contrariar, dediquei meu tempo em escolher com cautela a divisão. Porém, para mim era muito difícil, e por isto, deixei a mostra os sete frascos contendo as essências para que meus filhos escolhessem. Aquele seria o cheiro que eles arrastariam para o resto de suas vidas. E como castigo, não lhes disse de que era feita cada um daqueles perfumes.

Um deles era o frasco da essência da mais pura e jovem rosa já vista nesta terra. Colhida no mais alto pico, seu aroma perfumado era de deixar qualquer um atraído. Seu vermelho intenso logo chamou a atenção do Coelho. Este, como o animal mais rápido, saltou de onde estava e agarrou com força seu perfume, banhando-se dele.

O outro, continha o cheiro extraído do mais delicioso mel produzido no templo das fadas. O mel dos deuses. O Porco não pôde se conter, e ficara com ele.

Em terceiro, um frasco com um líquido borbulhante. Seu tom esverdeado vinha do ácido mais corrosivo, extraído do estômago de um dragão. Aquilo parecia salientar os olhos aguçados do Lobo, que logo o escolheu.

O Panda então aproximou-se desinteressado pronto a pegar o primeiro frasco que vira. Mas a Cobra fora rápida, e saltando a sua frente, tomou para si o frasco pelo outro escolhido. Este continha um líquido gosmento. O líquido do mais fedorento pântano existente.

Logo, o Panda nem um pouco contente, decidiu por deixar os outros dois irmãos decidirem suas escolhas, que ele ficaria com o último frasco. O que ninguém sabia, era que o Leão e o Macaco já tinham suas escolhas desde o começo. Ambos pegaram seus frascos, e o Panda pegou o último. Um vidro com um líquido transparente. Lá, estava a lágrima de uma ninfa. Salgada, fria.

O Macaco exibiu sua escolha. O frasco mais brilhante dentre todos. Aquele o qual mais atraía a atenção de todos. O mais reluzente. O frasco do pó das estrelas.

O leão por sua vez, mantinha em mãos o frasco mais belo. A cor exuberante estava contida em um frasco tapado por um pequeno coração. Sua escolha, fora a essência mais pura, do perfume mais belo. O perfume extraído do sangue de um coração apaixonado.

Na verdade, meus sete filhos possuem outros nomes, assim como minhas essências. O Coelho é a Luxúria, e seu frasco a rosa do Desejo. O Porco, a Gula, e seu frasco o precioso mel da Amizade. O Lobo é a Ira, e seu aroma o ácido do Ódio. A Cobra é a Inveja, e seu perfume o viscoso Nojo. O Panda é a Preguiça, e seu frasco a solitária Tristeza. O Macaco é a Ambição, e seu aroma a brilhante Felicidade. O Leão é o Orgulho, e o seu perfume, o mais delicioso e encantador Amor.

E eu, também não sou chamado apenas de Deus. Também sou conhecido como Humano, o filho da Verdade.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Centopéias Gramaticais

Um velho questionou-me uma vez, há muito tempo, algo de insubistituível valor. Creio que dias se passaram. Não, meses, talvez anos. Décadas ou séculos? Ah, pouco me importa, o que está dito está dito, o que está erguido não há de tombar. E as palavras; pequenas centopéias repartilhadas de segmentos de vogais e consoantes, tendo algumas patas mais tônicas ou acentuadas, ás vezes até mesmo com um mesquinho hífen intrometido, continuam a serpentilhar pelos emaranhados de minha massa cerebral. Ás vezes topam-se com alguns perdidos neurônios. Destes que cavalgam por aí em seus alazões invisíveis, em um desparar de vida-ou-morte. Quando o fato há de se ocorrer, o choque pode ser grande, até fatal. Inundam então toda a vasta extenção atraindo mais e mais rapazolas montados. Dali um evento se dá iniciado. Uma festa não seria o mais apropriado. Um debate talvez? Isto, um belo e inteligente debate. Porém, cada um daqueles jovenzinhos, guarda uma particularidade variada, no fim gerando em grande confusão. O debate se enaltece e no final, o que sobra, é apenas a bagunça, e aquele vasto cérebro que antes estava tão quieto, se torna em um borbulhar de cansaço, contaminado, pelas centopéias egoístas. Centopéias estas, que me relembro muito bem, visualizar deslizarem pela boca enrrugada daquele homem decrépito.

- Neste mundo meu caro, gosta-se daquilo que se quer gostar. Nossa mente tem a força de mover montanhas, de secar mares. Pois é ela, a grande portadora da imaginação. E o que mais são os sentimentos do que apenas ilusões mesquinhas de nossa mente egocêntrica? - Naquele momento pensei em como aquelas inúmeras gotículas de saliva que sobrevoavam minha cabeça podiam conter tanto impulso. De certo não queria prestar atenção no que o ancião proferia. Do que me adiantava, tão raparigo saber de sentimentos? Ouvi uma vez que são eles que dão forças à aquelas pestinhas de cem patas. Talvez sejam até eles que as colocam em nossa cabeça através de um buraco no canto esquerdo de nossa caixa toráxica. Mas, neste mundo há uma porção de regras. Regras estas que imagino se poderia escapar. Talvez não. Talvez sim. Mas aquele não era o momento. Como mais jovem, entre nossa diferença de seis décadas, resolvi dar-lhe ouvidos ao senhor a minha frente, mesmo que este não mais me aparentasse nada mais que um velho maracujá, já maduro demais.

- Você gosta de maçã? Pois se balança a cabeça como um não, lhe afirmo, não gostas por que não queres. Se desejasse gostar daquela maçã bem avermelhada, sentirias teu perfume no ar, e logo aprenderias a amá-la. O mesmo acontece com as pessoas. Gosta de sua mãe por que Ele lhe pediu? Ora deixe isto para os tolos. A você passo minha sabedoria. Quase sete décadas de aprendizado. Ninguém deixa de ser aluno, mas pode-se virar um professor. Como dizia, - pigarreou o homem. Um ato que me obrigara a causar certa careta de repulsa e graça contida. - não gostas de sua mãe atoa. Foi ela quem te deu carinho, quem te deu conforto. Mas fora você quem a aceitou. Quem viu que com ela, sua vida seria mais fácil. Mais fácil ainda serias se de fato amá-la. Por que não? Se obrigara então a isto. E então, dedicou-lhe-a toda sua confiança e pediu-a que tapasse seus olhos e enxergasse por você. Desde então, se ela lhe apontasse um homem qualquer na rua, e dissesse para odiá-lo, assim o faria, a não ser que tivesse outros motivos para tal. Percebes o que digo?

Naquele instante meu olhar de criança já não mais conseguia acompanhar o velho em seu discurso. Discurso que desde o começo mostrou-se um monólogo. Meus olhos sofriam com a pressão que aqueles finos e compridos cílios lhe causavam. Como ímãs que se atraíam, obrigaram-me a cerrar minhas pálpebras. Como imediata reação, minha boca se expandiu e um som gruniu da mesma. Estes eram os sinais de uma antiga e remota guerra, que dura até os dias de hoje. A guerra travada entre o sono, e a vontade de permanecer-se acordado. Pelo visto tínhamos um vencedor daquela batalha. O homem então retraiu as sobrancelhas, mas logo as amenizou. Afagou-me os cabelos e levantou-se de seu banco. - Durma meu jovem. Acho que só a vida será uma melhor professora a você. Sinto que não pude ser eu a te ensinar tudo. Durma, meu pequeno anjo.


Aquele senhor que no momento já me parecia um desconhecido, dêu-me um beijo na testa. Seus lábios secos com a idade me fizeram dizer algumas palavras inconscientemente. Imagino que tenha sido um "Boa noite, vovô". Não posso afirmar. Ali já estava entrando em mais uma fantástica viagem ao mundo dos sonhos, lendas, contos e mitos. A fantástica dimensão onde os monstros, anjos e princesas existem. Hoje, quando penso nisto, desejo com todas as forças que fosse possível viver lá. Ao menos, aquelas centopéias não me fariam tão mal. Pois lá, diferente daqui, eu optaria por torná-las verdadeiras, ou mera obra da falsidade.

domingo, 27 de junho de 2010

Começo

"Talvez, perguntaram sobre mim
Alguém de algum lugar, antes mesmo de eu nascer
Eu deixo você escolher um dos dois: Passado ou futuro
Você quer qual? Você quer qual?

Então, eu escolhi o passado
Para desejar que eu me torne uma pessoa
Carinhosa, invés de forte
Para que eu possa entender o que são lembranças

Continuando, alguém me disse
Vou deixar dois braços, duas pernas, duas bocas, duas orelhas, dois olhos
Dois corações, dois peitos e dois buracos de nariz
Não é bom? Não é bom?

Mas eu fiz um pedido
Apenas uma boca já basta
Para eu não ficar irritado sozinho
Para poder beijar apenas uma pessoa

Quero esquecer, mas não consigo, como é que eu chamo esse sentimento?

Essa pessoa mal humorada
Começou a falar novamente
O coração, mais importante,
Deixarei entre os dois peitos
Não é bom? Não é bom?

Novamente, fiz um pedido
Com licença, mas não quero o coração do lado direito
Desculpa ser muito manhoso
Porque eu consegui uma pessoa importante para mim
E para que quando eu a abrace, eu entenda que as duas pulsações estão nos dois lados do peito
O da esquerda é minha, o da direita é sua
O da esquerda é sua, O da direita é minha

Que eu consiga me perder sozinho
Que eu não consiga viver sozinho

Quero esquecer, mas não consigo, como é que eu chamo esse sentimento?
Meu peito está barulhento, mas me traz lembranças
como é que eu chamo esse sentimento?

Falando nisso, mais uma coisa
vamos dar opçoes de sabores as lagrimas
Mesmo que não exista mais nada, não há o que nos impeça também
Há pessoas que preferem não escolher por dificultar
O que você vai escolher? O que você vai escolher?

Então, eu fiz um pedido
Para desejar que eu me torne uma pessoa
Carinhosa, em vez de forte
Para que eu possa entender o que é realmente importante
Então, falando nisso, pelo menos escolha o gosto da lágrima
Com o sabor que você mais gosta
Deixando azedo, deixando salgado
Deixando picante, deixando doce
Escolha uma que você gosta
Qual? Qual?

Os seus desejos estão sendo realizados, não?
Por isso, me mostre essa sua cara de choro
Ok, me mostre com orgulho

Muito obrigado, de verdade
Causei muitas dificuldades
Mas, posso perguntar mais uma coisa?
Já nos encontramos em algum lugar?"


Por um determinado tempo, refleti a respeito do que poderia ser o começo deste blog. Decidido que seu nome realmente seria o de praxe tão usado Order Made (Oda Meido), nada como então dedicar-lhe sua letra a princípio. Uma letra a qual contêm um infundável significado diante tudo o que percorri até hoje.

Não sei o que motivara-me a criação de tal, mas pretendo por usufruir daqui com apenas uma utilidade, desabafo. Transpassar ao "papel" as idéias que tem o constante costume de martelar-me a mente. Imagino que muito provavelmente poucos, ou mesmo ninguém deva dedicar que seja um mínimo de seu tempo para ler minhas baboseiras, mas este não é, como disse, meu intuito. Contudo, se alguém ainda assim persistir na idéia, sinta-se muito bem vindo.