quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Um Brilho no Escuro


Um olhar vago acompanhava o movimento delicado e lento daquele pequeno ser vivo. Um dourado cintilante, escamado por seu corpo, dava-lhe um brilho inconstante a cada vez que tremulava seu corpo. Sua boca se abria constantemente em uma sucção em meio aquele líquido que o envolvia. E as orbes mel ainda o acompanhavam.

- Por favor, fique comigo para sempre. – Uma voz doce, suave e terna, porém frágil. A pele pálida evidenciava os olhos fundos e cansados. Um respirar falho lhe acompanhava naquela noite fria. Com o quarto tão escuro, aquele pequeno brilho dourado parecia ser a única fonte de luz existente. Como uma pequena fagulha do Sol imersa em meio à água gélida. Mas como poderiam estar juntos, o calor e o frio? Mas a resposta era clara. Exatamente por aquele pequeno e indefeso peixe lhe passar o calor, ele precisava estar imerso a água, e assim, atingir um equilíbrio perfeito. Equilíbrio. Talvez fosse esta a palavra que definia o que faltava àqueles olhos amendoados. – De agora em diante, será minha única companhia. Meu amor estará todo em ti, e sei que, com isto, me amará e se manterá ao meu lado até o fim. Estou certo?

A imagem do jovem enfermo estava transmitida no vidro redondo. A lua mostrava-lhe sua silhueta perdida na parede segura do aquário. Se aquele pequeno peixe, símbolo de luz, para se manter em equilíbrio necessitava estar na água, do que ele precisaria? Aonde deveria ele estar, sendo seu rosto a prova clara do frio; do só; do inerte? Talvez fosse esta a resposta para tudo aquilo que o prendia ali, pois fora neste momento, que seus olhos se cerraram, e ali ele adormeceu frente a seu peixe de estimação. Um sono profundo, estável; e infinito.

Nesta hora, o pequeno peixe dourado soltou uma bolha pela fenda de sua boca. Esta subira através da água, e se perdera em meio ao ar. Ali, uma promessa estava selada. Eles se encontrariam novamente. Não como o jovem em seu leito de morte e o peixe preso em sua redoma de vidro, mas sim como amantes, em um futuro incerto e longínquo. E então, finalmente poderiam se apoiar um ao outro, e seguir adiante, mais uma vez.


Para ser bem sincero, eu escrevi isto em apenas alguns minutos, e sem ter qualquer idéia de o por quê? Apenas fechei meus olhos e digitei, e o que saíra, por algum motivo, fora isto.

domingo, 29 de maio de 2011

Broken Mirror


Olhos cerrados. Boca impenetrável. Respiração continua. Audição gasta, e tato, dormente. O movimento das pálpebras lhe parecia dolorido e exaustivo. Frente ao espelho, uma figura mórbida, com o olhar imerso em profunda incompreensão. A mente, difusa em pensamentos confusos, a busca de uma explicação, de um por quê. Aquele olhar agora subistituia uma visão narcisista que há algum tempo, simplesmente desaparecera. O orgulho, a satisfação. Por onde eles andam? Por que fugiram, escapando de seus dedos antes tão firmes e seguros? Arrogante. Um termo antes muito escutado permanecia a ser dirigido, mesmo que apenas por culpa de uma máscara deficiente. Os olhos corriam pela face, encontrando todos os defeitos que causavam nojo naquela criatura. Por que estes formatos? Por que estas cores? Por que não redondo, menor, puxado, claro, escuro, áspero ou liso. Por que nada se encaixava no perfil tão idealizado? E por que não se encaixavam, se antes, lhe eram mais que apropriados? Porém, a resposta de tantas perguntas, gritava de dentro de sua alma. Ele não percebia? Não era sua aparência que o incomodava, e sim, algo que insistia em apunhalar seu peito, dias e mais dias. Mas como descobrir o que? Como perguntar a um órgão frágil, por que ele lhe causa tanta dor? Medo, frustração, anseio, passado, futuro? O que? Por quê? Creio que o jovem não queria saber disto. Seu desejo era apenas passar por aquilo, rejuvenescer, voltar à pequena e limitada visão do mundo. Aquela, por mais que mais desnorteada e ingênua, estava protegida do mundo ao seu redor. Protegida da realidade que, ao mesmo tempo doce, podia ser amarga. Muito, amarga.

Ser uma criança, presa em uma torre e longe da realidade, iludida em seu universo inferior, ou conhecer todas as verdades, e não conseguir se orgulhar de si mesmo depois de vê-las frente a frente?

Seus dedos largaram o teclado calmamente. Não podia mais digitar o resto de seu desabafo sem sentido. Afinal, sempre que escrevia algo, gostava de aprofundar em seu início, meio, e final, mas este, este ele não conhecia o final. Pois nem ele, sabia responder a tantas perguntas.