domingo, 12 de agosto de 2012

“And so it is...”


O sono persiste em não aparecer. O desabafo persiste em ocorrer. Ambos falham. Ambos conseguem parte de seu desejo.  


“No love, no glory...”


A Felicidade. Algo tão distante. Tão intocável. Tão simples. Seria ela difícil demais de ser conquistada, ou a culpa, a insatisfação, o medo ou o orgulho, responsáveis pelo seu distanciamento?  Como medir se ela é merecida? E como ter certeza de sua perpetuação?

Ás vezes sinto como se a evitasse. Que o pensamento do não merecimento me fizesse esquivar dela, assim que a sinto. Por outro lado, sinto que nunca a senti por completo, sendo ela intocável até a realização de certo sonho. Ao mesmo tempo, o mesmo pode ser apenas uma desculpa para justificar o medo, a culpa, a covardia.


"No hero in her sky..."

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Um Brilho no Escuro


Um olhar vago acompanhava o movimento delicado e lento daquele pequeno ser vivo. Um dourado cintilante, escamado por seu corpo, dava-lhe um brilho inconstante a cada vez que tremulava seu corpo. Sua boca se abria constantemente em uma sucção em meio aquele líquido que o envolvia. E as orbes mel ainda o acompanhavam.

- Por favor, fique comigo para sempre. – Uma voz doce, suave e terna, porém frágil. A pele pálida evidenciava os olhos fundos e cansados. Um respirar falho lhe acompanhava naquela noite fria. Com o quarto tão escuro, aquele pequeno brilho dourado parecia ser a única fonte de luz existente. Como uma pequena fagulha do Sol imersa em meio à água gélida. Mas como poderiam estar juntos, o calor e o frio? Mas a resposta era clara. Exatamente por aquele pequeno e indefeso peixe lhe passar o calor, ele precisava estar imerso a água, e assim, atingir um equilíbrio perfeito. Equilíbrio. Talvez fosse esta a palavra que definia o que faltava àqueles olhos amendoados. – De agora em diante, será minha única companhia. Meu amor estará todo em ti, e sei que, com isto, me amará e se manterá ao meu lado até o fim. Estou certo?

A imagem do jovem enfermo estava transmitida no vidro redondo. A lua mostrava-lhe sua silhueta perdida na parede segura do aquário. Se aquele pequeno peixe, símbolo de luz, para se manter em equilíbrio necessitava estar na água, do que ele precisaria? Aonde deveria ele estar, sendo seu rosto a prova clara do frio; do só; do inerte? Talvez fosse esta a resposta para tudo aquilo que o prendia ali, pois fora neste momento, que seus olhos se cerraram, e ali ele adormeceu frente a seu peixe de estimação. Um sono profundo, estável; e infinito.

Nesta hora, o pequeno peixe dourado soltou uma bolha pela fenda de sua boca. Esta subira através da água, e se perdera em meio ao ar. Ali, uma promessa estava selada. Eles se encontrariam novamente. Não como o jovem em seu leito de morte e o peixe preso em sua redoma de vidro, mas sim como amantes, em um futuro incerto e longínquo. E então, finalmente poderiam se apoiar um ao outro, e seguir adiante, mais uma vez.


Para ser bem sincero, eu escrevi isto em apenas alguns minutos, e sem ter qualquer idéia de o por quê? Apenas fechei meus olhos e digitei, e o que saíra, por algum motivo, fora isto.

domingo, 29 de maio de 2011

Broken Mirror


Olhos cerrados. Boca impenetrável. Respiração continua. Audição gasta, e tato, dormente. O movimento das pálpebras lhe parecia dolorido e exaustivo. Frente ao espelho, uma figura mórbida, com o olhar imerso em profunda incompreensão. A mente, difusa em pensamentos confusos, a busca de uma explicação, de um por quê. Aquele olhar agora subistituia uma visão narcisista que há algum tempo, simplesmente desaparecera. O orgulho, a satisfação. Por onde eles andam? Por que fugiram, escapando de seus dedos antes tão firmes e seguros? Arrogante. Um termo antes muito escutado permanecia a ser dirigido, mesmo que apenas por culpa de uma máscara deficiente. Os olhos corriam pela face, encontrando todos os defeitos que causavam nojo naquela criatura. Por que estes formatos? Por que estas cores? Por que não redondo, menor, puxado, claro, escuro, áspero ou liso. Por que nada se encaixava no perfil tão idealizado? E por que não se encaixavam, se antes, lhe eram mais que apropriados? Porém, a resposta de tantas perguntas, gritava de dentro de sua alma. Ele não percebia? Não era sua aparência que o incomodava, e sim, algo que insistia em apunhalar seu peito, dias e mais dias. Mas como descobrir o que? Como perguntar a um órgão frágil, por que ele lhe causa tanta dor? Medo, frustração, anseio, passado, futuro? O que? Por quê? Creio que o jovem não queria saber disto. Seu desejo era apenas passar por aquilo, rejuvenescer, voltar à pequena e limitada visão do mundo. Aquela, por mais que mais desnorteada e ingênua, estava protegida do mundo ao seu redor. Protegida da realidade que, ao mesmo tempo doce, podia ser amarga. Muito, amarga.

Ser uma criança, presa em uma torre e longe da realidade, iludida em seu universo inferior, ou conhecer todas as verdades, e não conseguir se orgulhar de si mesmo depois de vê-las frente a frente?

Seus dedos largaram o teclado calmamente. Não podia mais digitar o resto de seu desabafo sem sentido. Afinal, sempre que escrevia algo, gostava de aprofundar em seu início, meio, e final, mas este, este ele não conhecia o final. Pois nem ele, sabia responder a tantas perguntas.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Red Line

Um emaranhado de linhas tênues que formavam um tipo de tecido de um tom magenta que com toda a certeza, a humanidade nunca conseguiria obter. Era puro. Solto. Vivo. Aveludado, possuía um brilho que vagamente se assemelhava ao de seda. Mas o que eram os tecidos comuns perto daquelas tiras que contornavam a pele desnuda daquele belo rapaz? Nada. O restante era apenas uma imitação barata de tamanha perfeição.

O que são eles? Ora, que pergunta tola. Os sentimentos. Aquelas tiras entrelaçadas em cada ser vivo. Chamavam assim. Sentimentos. Possuíam diferentes cores, tamanhos, intensidades e belezas, mas todos eram puros. Os azuis mostravam o laço da fidelidade, lealdade, idealização e sonho. Alguns ousavam apelidá-los de ‘Amizade’. Os amarelos passavam a luz, o calor, o envolvente. Eu; possuía a mania estranha de chamá-los de ‘Admiração’. Já os vermelhos, há, estes eu deixo por último. O motivo de tal, é que, além de meus preferidos, eram os mais complexos. Afinal, neles misturavam-se duas vertentes. O magenta poderia passar o violento, o agressivo e a incompreensão, mas ao mesmo tempo, ele passava o desejo, o querer e o gostar. Este, claro, eu não deixaria de agregar-lhe um nome, que na verdade lhe fossem dois. O ‘Ódio’ e o ‘Amor’.

Destes, surgiam as outras inúmeras cores e combinações. E no corpo de cada indivíduo, notava-se diversos destes tecidos perfeitos que entrelaçavam com outros indivíduos. Quanto mais puro, mais brilhante e belo ele era. E o daquele garoto, devo admitir, era o mais belo que já havia notado. Sua cor rubra era tão intensa. Esgueirava-se por toda a sua volta, fiel a seu restante. Uma de suas pontas estava cravada em meio ao peito do jovem. Este, guardava aquela ligação com um punho cerrado. Não queria desprender-lhe dela. Do outro lado, uma ponta abandonada. Amarrada aos pulsos de um rapazinho, ela permanecia ali, forte, porém, ignorada. Mas o que ele poderia fazer? De seu peito já se desprendia outro tecido. Um de intensidade imensa, que perdia-se em outro corpo.

O rapaz pensava se deveria puxar aquela linha que o unia a alguém. Esta poderia mostrar-lhe algo de interessante do outro lado? Mas talvez, ela pudesse machucar a pessoa presa a ela. Em sua mente, eram apenas estes os pensamentos. Ele queria apenas admirar aquele tecido belo, e acima de tudo, o possuidor de sua outra ponta. Não lhe importava a ligação em si, e sim os componentes da mesma. Com medo das conseqüências, o jovem ergueu-se de onde estava, e começara a perseguir por entre aquela ligação. Ao seu fim, seus olhos se encaixaram a uma figura de tamanha beleza que seus lábios se tornaram impotentes, e suas cordas vocais não trabalharam. Mas afinal, do que elas serviam? Seus olhos disseram por ele no momento em que suas pupilas se dilataram. Esquecera por um momento a linha do vermelho perfeito, ou a linha do peito do outro indivíduo. A única coisa que importava agora era ele em si, e nada mais. Assentou-se então a seu lado, e com um olhar, prometera permanecer ali, até que aquele corpo estivesse totalmente completo.

O outro tentara mostrar que já possuía sua linha cravada ao peito, e que por isso não poderia aceitar a do rapaz, mas este permanecera imóvel. Dissera-lhe com as claras orbes que não desejava tirar do outro seus laços. Só queria apresentar-lhe a possibilidade de uma nova ligação, e que, mesmo se não aceita, para ele, era aquela que prevaleceria, mesmo se apenas um lado delas conseguisse atingir um coração.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"Madame Butterfly"


O pincel serrilhado marcava o oshiroi. O pó espesso de farinha de arroz era levado à face. A pele aos poucos se tornava de um branco leitoso. Intenso. Artificial. Imortal. Depois era a vez do carvão em brasas, que deixava seu escuro rastro ressaltando não só as arqueadas sobrancelhas, como também os amendoados olhos asiáticos. As tão igualmente escuras orbes agora se voltavam ao beni. A pasta avermelhada de açafrão contrastava de forma violenta a mortificação branca do oshiroi. Aos poucos os ressaltados zigomas se enrubesciam intensamente, transmutando aquela fria e apática expressão pálida, em uma faceta tímida e inocente. O espelho era real e cruel. Nele estava estampada uma verdade um tanto dolorida. A beleza que ali estava, a que todos encantava, e que era fruto de tantos conflitos e disputas, nada mais era que uma máscara de maquilagem que encobria um rosto inseguro, bobo e sem nenhum grande atrativo.

Cansada de vislumbrar aquela certeza frustrante, a jovem cerrara os olhos e erguera-se do chão. Era hora de vestir algo que combinasse com aquele seu falso porte. Terminando a montagem de seu casulo, pôs-se para fora de sua casa. À porta, sua “tia” batera com duas pedras algumas vezes. O choque destas liberara algumas faíscas. O movimento era uma simbolização de desejo de sorte para a preciosa gueixa. A mesma deslizara pelas ruas japonesas, enfeitiçando os olhares ao redor. Em sua mente, um pensamento que fizera seus mínimos lábios em formato de coração se esgueirassem em um sorriso. Desejava em seu interior que a sorte a ela desejada pela mulher que chamava de tia fosse responsável por uma noite perfeita ao lado de seu amado. Sim, quando gueixa deixava-se apaixonar por um homem que entretia algumas vezes ao ano. O empresário visitava a cidade aproximadamente uma vez ao mês, e quando o fazia, quase sempre pedia pela presença de sua artista preferida.

A noite, como sempre, fora inesquecível para a bela jovem que, ao despedir-se do amado, não pôde mais conter o amplo sorriso. As palavras do homem não saiam de sua mente. “Daisuki”. Ele realmente lhe dissera isto. Então seu amor era correspondido. Só tinha que esperar mais dois meses e logo estaria em companhia dele novamente, e poderia se declarar.

Os dias se passaram, e a jovem continuava a esperar pela próxima lua minguante. Naquele dia, perdida em pensamentos, sua tia veio a ela e pediu-lhe que fosse até o mercado em busca de algumas especiarias. Com a ausência das jovens assistentes de sua casa, não pôde negar. Porém, no caminho de volta, decidira por passear pelos arredores. Postava-se agora em uma simples, mas belíssima, ponte de madeira sobre um singelo riacho. As cerejeiras à volta, lançavam ao ar pétalas de suas flores rosadas. Parte delas rodopiava ao vento em suas trajetórias elípticas, caindo sobre a límpida e cristalina água. Junto a elas, o reflexo de uma mulher. Os longos e lisos cabelos negros dela caíam-lhe a face. A pele branca e lisa contrastava com um olhar triste. Este insistia em comparar aquela feição com a face maquiada que comumente usava. Desejava ser tão bela quanto aquelas flores que desciam pelo córrego. Absorta em tais devaneios, não vira a noite atingir sua tarde, manchando o céu com uma preciosa lua cheia. Passara a pensar no empresário que em breve veria, e m sorriso espalhou-se por eu semblante. Porém, fora puxada de seu transe por uma voz grave e gentil.

- O que uma jovem tão bela faz a esta hora por aqui? – A voz vinha de um soldado. O rapaz trazia ao peito dois fortes braços cruzados.

Envergonhada, a gueixa tentou esconder sua desagradável feição, mas a gentil mão do militar a impediu, erguendo seu rosto pelo queixo. Seu toque macio era acompanhado de palavras doces e meigas. Elogios, admiração. A garota não conseguia entender como um homem daqueles poderia desferir tais coisas frente a uma mulher tão feia. Seu olhar de insegurança tomou novamente conta de sua face.

- Oh não! Não estrague tão belo rosto. Não percebes que é seu sorriso e confiança que lhe torna tão graciosa quanto estas cerejeiras que nos rodeiam?

Amedrontada, pôs-se a correr para bem longe. Porém, por mais que o fizesse, não poderia fugir de tais palavras. Palavras que lhe causavam algo que antes, só a maquilagem conseguira. Confiança. Com um sorriso marcando-lhe a face, correu pela cidade. Então notou algo. Os olhares das pessoas prendiam-se a ela, e não era por estar correndo. Prendiam-se por admiração. Assim como quando adentrava sua máscara por baixo dos luxuosos quimonos. Seu olhar então se voltara a sua imagem refletida em um espelho frente a uma simples loja. Seu sorriso ainda estampado, causou-lhe surpresa. Quem era aquela mulher maravilhosa frente a seus olhos? Mais bela que a gueixa que sempre via. Talvez, por que naquela, existia de fato a confiança e a alegria verdadeira, e não o falso ego da outra. Fora ali que percebera que, a lagarta que sempre se escondia no casulo das maquiagens, quimonos e em todas as suas habilidades que lhe foram impostas, estava pronta para liberar suas asas.

Naquela noite, deixara de lado a espera pela lua minguante, e passara a adorar a lua cheia, pois era esta que se assemelhava a ela agora. Uma lua completa. Voltara a encontrar-se com o soldado, e aos poucos, percebera que as palavras de seu empresário nunca conseguiram completá-la, por que não se dirigiam a ela, e sim a boneca de porcelana que ela apresentara a ele. O “Daisuki”, aos poucos fora sendo substituído por uma declaração muito mais forte vinda de seu soldado. “Aishiteru, cho-cho”.


"Quero deixar bem claro que, o futuro desta gueixa não fora o mesmo de Madame Butterfly, e que fora escrita antes mesmo de eu tomar conhecimento da mesma"

domingo, 25 de julho de 2010

Arigatou

A caneta deslizava sobre o papel. Os pensamentos longes. Não sabia o que escrevia, e pouco importava, para ser honesto. Estava no lugar errado, na hora indevida. Naquele momento, deveria estar dentro de uma sala, visando o futuro e refletindo sobre as palavras dos sábios professores. Porém, não era aquilo que me ocorria. Sentado frente a uma pequena sede de uma empresa qualquer, a qual minha memória falha, rabiscava um caderno com paciência, aguardando por algo que me tirasse do profundo transe. Os olhos possuíam um misto de marejar de lágrimas com o brilho de esperança. Seja como for, pouco influía. A imagem em minha mente era sempre a mesma. Um rosto. Uma face recentemente conhecida, que insistia em martelar-me a mente de tal maneira que me instigara a ali estar. Era a primeira vez em que eu faltava à aula sem um motivo justificável. Estava ali sem propósito. Apenas para reorganizar meus pensamentos. Ou organizá-los, já que estes não estiveram antes organizados. Um nome, um rosto, uma expressão, uma conversa, um telefonema. Como coisas tão pequenas poderiam causar tamanho sentimento? Um sorriso. Ah, este sim era o provável causador de tal aflição e confusão. Um sorriso belo, tímido e infantil. Visto poucas vezes. Visto apenas um dia. Afinal, a pessoa a qual ele pertencia, aparecera-me no dia anterior pela primeira vez. Coincidências, destinos, conversas, telefonemas, revelações, conseqüências. Como um dia podia gerar tanta coisa? Uma vida parada, que em apenas um dia toma um rumo tão distinto. E o nome voltava a questionar-me. Por quê? Como? Não sabia responder. Não queria. Apenas desejava continuar sentindo aquilo que pela primeira e única vez sentia. Alguns chamam de paixão, outros, já usufruem do termo amor. Admiração, desejo. Muitos nomes, para apenas um sentimento. Um gostar, um fascinar. Um apaixonar-se.

Hoje, vejo tudo o que tal sentimento me proporcionou. Muitos pensam que, gerado tanto sofrimento, eu deveria tentar esquecer os fatos. Mas estes não sabem que, em minha mente, sobrepõe um pensamento único. Preferir o vazio à felicidade acompanhada da dor era a última hipótese a qual eu escolheria recorrer. Quando me recordo, apenas dois sorrisos me vêem em mente, e em face. Sorriso este o qual meus lábios insistem em exibir, e sorriso o qual, espero com toda a sinceridade, estar estampado em uma face por mim conhecida.

Talvez o sentimento não mais exista. Talvez seja forte o bastante para resistir por toda a eternidade, porém sendo moldado de diferentes maneiras. Como saber? Há a possibilidade de nunca mais ver seu rosto. E hoje, peço que aceite meu ‘Obrigado’. Obrigado por ter sido tão especial e ter influenciado tanto em minha evolução.

Não escrevo isto por ter qualquer sentimento antigo sobre você, e sim por que, estas são palavras as quais sempre quis desferir, e que, agora, me bateu a vontade de escrevê-las. Não sei o que sente ou deixa de sentir por mim, e nem quero que me responda se não for de sua iniciativa o fazer. Como disse, este é apenas um pequeno emaranhado de palavras de agradecimento. Obrigado por ter marcado minha vida.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Aroma do Pecado

Dizem que os deuses são dotados de imenso poder. Mas, também lhes é concebido inúmeros deveres. A mim, foram destinados duas grandes obrigações. Uma delas era cuidar de meus filhos. Sete, no total. Deve imaginar que para um Deus é uma tarefa fácil, mas acredite, não é. Minhas sete peculiares crias. São estes os conhecidos como os sete animais sagrados. O Porco, o Panda, a Cobra, o Coelho, o Lobo, o Macaco e finalmente o Leão. Hoje, me pergunto qual destas sete maliciosas miniaturas me motivou a agir como tal. Imagino se não tenha sido apenas uma grande cilada trapaceada pelo meu filho mais velho. Sim, muito possível. Meu garoto impetuoso e imperial, o Leão, que pode ter sido ajudado por sua preciosa irmã, a Cobra. Sempre imaginei o quanto estes dois planejavam às minhas costas. Sempre preparados para me apunhalar em uma jorrada inesperada de surpresas. A garota, ah, esta sim tinha motivos para querer que eu abandonasse meus preciosos troféus.

Vocês devem estar se perguntando quais troféus são estes que exigem de mim tal zelo e mimo. Pois então lhes explicarei. Sou um Perfumista. O Deus especialista na mistura de fragrâncias das mais inúmeras e variadas essências. Não um perfumista qualquer. Ora, que absurdo, afinal, sou uma divindade. Já extraí o cheiro de flores, animais, pedras e até mesmo da água. Sim, acreditem, neste mundo tudo tem seu cheiro. E eu, como um perfumista, tenho que amar a todos os cheiros como bênçãos da natureza. Mas, meus filhos não pensam o mesmo. Eles sentem-se trocados pelas minhas preciosidades. Meus frascos dos mais puros odores.

Talvez seja por isto que eles recorreram à ajuda do Grande Pai a me obrigar a tomar uma decisão. Este, que devem imaginar, é o Deus dos Deuses. Ele exigiu de mim um preço muito alto a pagar por deixar a desejar o carinho e afeto que filhos deveriam receber de um pai. Fez com que eu distribuísse minhas sete principais fragrâncias entre meus sete filhos. Não podendo contrariar, dediquei meu tempo em escolher com cautela a divisão. Porém, para mim era muito difícil, e por isto, deixei a mostra os sete frascos contendo as essências para que meus filhos escolhessem. Aquele seria o cheiro que eles arrastariam para o resto de suas vidas. E como castigo, não lhes disse de que era feita cada um daqueles perfumes.

Um deles era o frasco da essência da mais pura e jovem rosa já vista nesta terra. Colhida no mais alto pico, seu aroma perfumado era de deixar qualquer um atraído. Seu vermelho intenso logo chamou a atenção do Coelho. Este, como o animal mais rápido, saltou de onde estava e agarrou com força seu perfume, banhando-se dele.

O outro, continha o cheiro extraído do mais delicioso mel produzido no templo das fadas. O mel dos deuses. O Porco não pôde se conter, e ficara com ele.

Em terceiro, um frasco com um líquido borbulhante. Seu tom esverdeado vinha do ácido mais corrosivo, extraído do estômago de um dragão. Aquilo parecia salientar os olhos aguçados do Lobo, que logo o escolheu.

O Panda então aproximou-se desinteressado pronto a pegar o primeiro frasco que vira. Mas a Cobra fora rápida, e saltando a sua frente, tomou para si o frasco pelo outro escolhido. Este continha um líquido gosmento. O líquido do mais fedorento pântano existente.

Logo, o Panda nem um pouco contente, decidiu por deixar os outros dois irmãos decidirem suas escolhas, que ele ficaria com o último frasco. O que ninguém sabia, era que o Leão e o Macaco já tinham suas escolhas desde o começo. Ambos pegaram seus frascos, e o Panda pegou o último. Um vidro com um líquido transparente. Lá, estava a lágrima de uma ninfa. Salgada, fria.

O Macaco exibiu sua escolha. O frasco mais brilhante dentre todos. Aquele o qual mais atraía a atenção de todos. O mais reluzente. O frasco do pó das estrelas.

O leão por sua vez, mantinha em mãos o frasco mais belo. A cor exuberante estava contida em um frasco tapado por um pequeno coração. Sua escolha, fora a essência mais pura, do perfume mais belo. O perfume extraído do sangue de um coração apaixonado.

Na verdade, meus sete filhos possuem outros nomes, assim como minhas essências. O Coelho é a Luxúria, e seu frasco a rosa do Desejo. O Porco, a Gula, e seu frasco o precioso mel da Amizade. O Lobo é a Ira, e seu aroma o ácido do Ódio. A Cobra é a Inveja, e seu perfume o viscoso Nojo. O Panda é a Preguiça, e seu frasco a solitária Tristeza. O Macaco é a Ambição, e seu aroma a brilhante Felicidade. O Leão é o Orgulho, e o seu perfume, o mais delicioso e encantador Amor.

E eu, também não sou chamado apenas de Deus. Também sou conhecido como Humano, o filho da Verdade.