terça-feira, 26 de outubro de 2010

Red Line

Um emaranhado de linhas tênues que formavam um tipo de tecido de um tom magenta que com toda a certeza, a humanidade nunca conseguiria obter. Era puro. Solto. Vivo. Aveludado, possuía um brilho que vagamente se assemelhava ao de seda. Mas o que eram os tecidos comuns perto daquelas tiras que contornavam a pele desnuda daquele belo rapaz? Nada. O restante era apenas uma imitação barata de tamanha perfeição.

O que são eles? Ora, que pergunta tola. Os sentimentos. Aquelas tiras entrelaçadas em cada ser vivo. Chamavam assim. Sentimentos. Possuíam diferentes cores, tamanhos, intensidades e belezas, mas todos eram puros. Os azuis mostravam o laço da fidelidade, lealdade, idealização e sonho. Alguns ousavam apelidá-los de ‘Amizade’. Os amarelos passavam a luz, o calor, o envolvente. Eu; possuía a mania estranha de chamá-los de ‘Admiração’. Já os vermelhos, há, estes eu deixo por último. O motivo de tal, é que, além de meus preferidos, eram os mais complexos. Afinal, neles misturavam-se duas vertentes. O magenta poderia passar o violento, o agressivo e a incompreensão, mas ao mesmo tempo, ele passava o desejo, o querer e o gostar. Este, claro, eu não deixaria de agregar-lhe um nome, que na verdade lhe fossem dois. O ‘Ódio’ e o ‘Amor’.

Destes, surgiam as outras inúmeras cores e combinações. E no corpo de cada indivíduo, notava-se diversos destes tecidos perfeitos que entrelaçavam com outros indivíduos. Quanto mais puro, mais brilhante e belo ele era. E o daquele garoto, devo admitir, era o mais belo que já havia notado. Sua cor rubra era tão intensa. Esgueirava-se por toda a sua volta, fiel a seu restante. Uma de suas pontas estava cravada em meio ao peito do jovem. Este, guardava aquela ligação com um punho cerrado. Não queria desprender-lhe dela. Do outro lado, uma ponta abandonada. Amarrada aos pulsos de um rapazinho, ela permanecia ali, forte, porém, ignorada. Mas o que ele poderia fazer? De seu peito já se desprendia outro tecido. Um de intensidade imensa, que perdia-se em outro corpo.

O rapaz pensava se deveria puxar aquela linha que o unia a alguém. Esta poderia mostrar-lhe algo de interessante do outro lado? Mas talvez, ela pudesse machucar a pessoa presa a ela. Em sua mente, eram apenas estes os pensamentos. Ele queria apenas admirar aquele tecido belo, e acima de tudo, o possuidor de sua outra ponta. Não lhe importava a ligação em si, e sim os componentes da mesma. Com medo das conseqüências, o jovem ergueu-se de onde estava, e começara a perseguir por entre aquela ligação. Ao seu fim, seus olhos se encaixaram a uma figura de tamanha beleza que seus lábios se tornaram impotentes, e suas cordas vocais não trabalharam. Mas afinal, do que elas serviam? Seus olhos disseram por ele no momento em que suas pupilas se dilataram. Esquecera por um momento a linha do vermelho perfeito, ou a linha do peito do outro indivíduo. A única coisa que importava agora era ele em si, e nada mais. Assentou-se então a seu lado, e com um olhar, prometera permanecer ali, até que aquele corpo estivesse totalmente completo.

O outro tentara mostrar que já possuía sua linha cravada ao peito, e que por isso não poderia aceitar a do rapaz, mas este permanecera imóvel. Dissera-lhe com as claras orbes que não desejava tirar do outro seus laços. Só queria apresentar-lhe a possibilidade de uma nova ligação, e que, mesmo se não aceita, para ele, era aquela que prevaleceria, mesmo se apenas um lado delas conseguisse atingir um coração.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"Madame Butterfly"


O pincel serrilhado marcava o oshiroi. O pó espesso de farinha de arroz era levado à face. A pele aos poucos se tornava de um branco leitoso. Intenso. Artificial. Imortal. Depois era a vez do carvão em brasas, que deixava seu escuro rastro ressaltando não só as arqueadas sobrancelhas, como também os amendoados olhos asiáticos. As tão igualmente escuras orbes agora se voltavam ao beni. A pasta avermelhada de açafrão contrastava de forma violenta a mortificação branca do oshiroi. Aos poucos os ressaltados zigomas se enrubesciam intensamente, transmutando aquela fria e apática expressão pálida, em uma faceta tímida e inocente. O espelho era real e cruel. Nele estava estampada uma verdade um tanto dolorida. A beleza que ali estava, a que todos encantava, e que era fruto de tantos conflitos e disputas, nada mais era que uma máscara de maquilagem que encobria um rosto inseguro, bobo e sem nenhum grande atrativo.

Cansada de vislumbrar aquela certeza frustrante, a jovem cerrara os olhos e erguera-se do chão. Era hora de vestir algo que combinasse com aquele seu falso porte. Terminando a montagem de seu casulo, pôs-se para fora de sua casa. À porta, sua “tia” batera com duas pedras algumas vezes. O choque destas liberara algumas faíscas. O movimento era uma simbolização de desejo de sorte para a preciosa gueixa. A mesma deslizara pelas ruas japonesas, enfeitiçando os olhares ao redor. Em sua mente, um pensamento que fizera seus mínimos lábios em formato de coração se esgueirassem em um sorriso. Desejava em seu interior que a sorte a ela desejada pela mulher que chamava de tia fosse responsável por uma noite perfeita ao lado de seu amado. Sim, quando gueixa deixava-se apaixonar por um homem que entretia algumas vezes ao ano. O empresário visitava a cidade aproximadamente uma vez ao mês, e quando o fazia, quase sempre pedia pela presença de sua artista preferida.

A noite, como sempre, fora inesquecível para a bela jovem que, ao despedir-se do amado, não pôde mais conter o amplo sorriso. As palavras do homem não saiam de sua mente. “Daisuki”. Ele realmente lhe dissera isto. Então seu amor era correspondido. Só tinha que esperar mais dois meses e logo estaria em companhia dele novamente, e poderia se declarar.

Os dias se passaram, e a jovem continuava a esperar pela próxima lua minguante. Naquele dia, perdida em pensamentos, sua tia veio a ela e pediu-lhe que fosse até o mercado em busca de algumas especiarias. Com a ausência das jovens assistentes de sua casa, não pôde negar. Porém, no caminho de volta, decidira por passear pelos arredores. Postava-se agora em uma simples, mas belíssima, ponte de madeira sobre um singelo riacho. As cerejeiras à volta, lançavam ao ar pétalas de suas flores rosadas. Parte delas rodopiava ao vento em suas trajetórias elípticas, caindo sobre a límpida e cristalina água. Junto a elas, o reflexo de uma mulher. Os longos e lisos cabelos negros dela caíam-lhe a face. A pele branca e lisa contrastava com um olhar triste. Este insistia em comparar aquela feição com a face maquiada que comumente usava. Desejava ser tão bela quanto aquelas flores que desciam pelo córrego. Absorta em tais devaneios, não vira a noite atingir sua tarde, manchando o céu com uma preciosa lua cheia. Passara a pensar no empresário que em breve veria, e m sorriso espalhou-se por eu semblante. Porém, fora puxada de seu transe por uma voz grave e gentil.

- O que uma jovem tão bela faz a esta hora por aqui? – A voz vinha de um soldado. O rapaz trazia ao peito dois fortes braços cruzados.

Envergonhada, a gueixa tentou esconder sua desagradável feição, mas a gentil mão do militar a impediu, erguendo seu rosto pelo queixo. Seu toque macio era acompanhado de palavras doces e meigas. Elogios, admiração. A garota não conseguia entender como um homem daqueles poderia desferir tais coisas frente a uma mulher tão feia. Seu olhar de insegurança tomou novamente conta de sua face.

- Oh não! Não estrague tão belo rosto. Não percebes que é seu sorriso e confiança que lhe torna tão graciosa quanto estas cerejeiras que nos rodeiam?

Amedrontada, pôs-se a correr para bem longe. Porém, por mais que o fizesse, não poderia fugir de tais palavras. Palavras que lhe causavam algo que antes, só a maquilagem conseguira. Confiança. Com um sorriso marcando-lhe a face, correu pela cidade. Então notou algo. Os olhares das pessoas prendiam-se a ela, e não era por estar correndo. Prendiam-se por admiração. Assim como quando adentrava sua máscara por baixo dos luxuosos quimonos. Seu olhar então se voltara a sua imagem refletida em um espelho frente a uma simples loja. Seu sorriso ainda estampado, causou-lhe surpresa. Quem era aquela mulher maravilhosa frente a seus olhos? Mais bela que a gueixa que sempre via. Talvez, por que naquela, existia de fato a confiança e a alegria verdadeira, e não o falso ego da outra. Fora ali que percebera que, a lagarta que sempre se escondia no casulo das maquiagens, quimonos e em todas as suas habilidades que lhe foram impostas, estava pronta para liberar suas asas.

Naquela noite, deixara de lado a espera pela lua minguante, e passara a adorar a lua cheia, pois era esta que se assemelhava a ela agora. Uma lua completa. Voltara a encontrar-se com o soldado, e aos poucos, percebera que as palavras de seu empresário nunca conseguiram completá-la, por que não se dirigiam a ela, e sim a boneca de porcelana que ela apresentara a ele. O “Daisuki”, aos poucos fora sendo substituído por uma declaração muito mais forte vinda de seu soldado. “Aishiteru, cho-cho”.


"Quero deixar bem claro que, o futuro desta gueixa não fora o mesmo de Madame Butterfly, e que fora escrita antes mesmo de eu tomar conhecimento da mesma"

domingo, 25 de julho de 2010

Arigatou

A caneta deslizava sobre o papel. Os pensamentos longes. Não sabia o que escrevia, e pouco importava, para ser honesto. Estava no lugar errado, na hora indevida. Naquele momento, deveria estar dentro de uma sala, visando o futuro e refletindo sobre as palavras dos sábios professores. Porém, não era aquilo que me ocorria. Sentado frente a uma pequena sede de uma empresa qualquer, a qual minha memória falha, rabiscava um caderno com paciência, aguardando por algo que me tirasse do profundo transe. Os olhos possuíam um misto de marejar de lágrimas com o brilho de esperança. Seja como for, pouco influía. A imagem em minha mente era sempre a mesma. Um rosto. Uma face recentemente conhecida, que insistia em martelar-me a mente de tal maneira que me instigara a ali estar. Era a primeira vez em que eu faltava à aula sem um motivo justificável. Estava ali sem propósito. Apenas para reorganizar meus pensamentos. Ou organizá-los, já que estes não estiveram antes organizados. Um nome, um rosto, uma expressão, uma conversa, um telefonema. Como coisas tão pequenas poderiam causar tamanho sentimento? Um sorriso. Ah, este sim era o provável causador de tal aflição e confusão. Um sorriso belo, tímido e infantil. Visto poucas vezes. Visto apenas um dia. Afinal, a pessoa a qual ele pertencia, aparecera-me no dia anterior pela primeira vez. Coincidências, destinos, conversas, telefonemas, revelações, conseqüências. Como um dia podia gerar tanta coisa? Uma vida parada, que em apenas um dia toma um rumo tão distinto. E o nome voltava a questionar-me. Por quê? Como? Não sabia responder. Não queria. Apenas desejava continuar sentindo aquilo que pela primeira e única vez sentia. Alguns chamam de paixão, outros, já usufruem do termo amor. Admiração, desejo. Muitos nomes, para apenas um sentimento. Um gostar, um fascinar. Um apaixonar-se.

Hoje, vejo tudo o que tal sentimento me proporcionou. Muitos pensam que, gerado tanto sofrimento, eu deveria tentar esquecer os fatos. Mas estes não sabem que, em minha mente, sobrepõe um pensamento único. Preferir o vazio à felicidade acompanhada da dor era a última hipótese a qual eu escolheria recorrer. Quando me recordo, apenas dois sorrisos me vêem em mente, e em face. Sorriso este o qual meus lábios insistem em exibir, e sorriso o qual, espero com toda a sinceridade, estar estampado em uma face por mim conhecida.

Talvez o sentimento não mais exista. Talvez seja forte o bastante para resistir por toda a eternidade, porém sendo moldado de diferentes maneiras. Como saber? Há a possibilidade de nunca mais ver seu rosto. E hoje, peço que aceite meu ‘Obrigado’. Obrigado por ter sido tão especial e ter influenciado tanto em minha evolução.

Não escrevo isto por ter qualquer sentimento antigo sobre você, e sim por que, estas são palavras as quais sempre quis desferir, e que, agora, me bateu a vontade de escrevê-las. Não sei o que sente ou deixa de sentir por mim, e nem quero que me responda se não for de sua iniciativa o fazer. Como disse, este é apenas um pequeno emaranhado de palavras de agradecimento. Obrigado por ter marcado minha vida.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Aroma do Pecado

Dizem que os deuses são dotados de imenso poder. Mas, também lhes é concebido inúmeros deveres. A mim, foram destinados duas grandes obrigações. Uma delas era cuidar de meus filhos. Sete, no total. Deve imaginar que para um Deus é uma tarefa fácil, mas acredite, não é. Minhas sete peculiares crias. São estes os conhecidos como os sete animais sagrados. O Porco, o Panda, a Cobra, o Coelho, o Lobo, o Macaco e finalmente o Leão. Hoje, me pergunto qual destas sete maliciosas miniaturas me motivou a agir como tal. Imagino se não tenha sido apenas uma grande cilada trapaceada pelo meu filho mais velho. Sim, muito possível. Meu garoto impetuoso e imperial, o Leão, que pode ter sido ajudado por sua preciosa irmã, a Cobra. Sempre imaginei o quanto estes dois planejavam às minhas costas. Sempre preparados para me apunhalar em uma jorrada inesperada de surpresas. A garota, ah, esta sim tinha motivos para querer que eu abandonasse meus preciosos troféus.

Vocês devem estar se perguntando quais troféus são estes que exigem de mim tal zelo e mimo. Pois então lhes explicarei. Sou um Perfumista. O Deus especialista na mistura de fragrâncias das mais inúmeras e variadas essências. Não um perfumista qualquer. Ora, que absurdo, afinal, sou uma divindade. Já extraí o cheiro de flores, animais, pedras e até mesmo da água. Sim, acreditem, neste mundo tudo tem seu cheiro. E eu, como um perfumista, tenho que amar a todos os cheiros como bênçãos da natureza. Mas, meus filhos não pensam o mesmo. Eles sentem-se trocados pelas minhas preciosidades. Meus frascos dos mais puros odores.

Talvez seja por isto que eles recorreram à ajuda do Grande Pai a me obrigar a tomar uma decisão. Este, que devem imaginar, é o Deus dos Deuses. Ele exigiu de mim um preço muito alto a pagar por deixar a desejar o carinho e afeto que filhos deveriam receber de um pai. Fez com que eu distribuísse minhas sete principais fragrâncias entre meus sete filhos. Não podendo contrariar, dediquei meu tempo em escolher com cautela a divisão. Porém, para mim era muito difícil, e por isto, deixei a mostra os sete frascos contendo as essências para que meus filhos escolhessem. Aquele seria o cheiro que eles arrastariam para o resto de suas vidas. E como castigo, não lhes disse de que era feita cada um daqueles perfumes.

Um deles era o frasco da essência da mais pura e jovem rosa já vista nesta terra. Colhida no mais alto pico, seu aroma perfumado era de deixar qualquer um atraído. Seu vermelho intenso logo chamou a atenção do Coelho. Este, como o animal mais rápido, saltou de onde estava e agarrou com força seu perfume, banhando-se dele.

O outro, continha o cheiro extraído do mais delicioso mel produzido no templo das fadas. O mel dos deuses. O Porco não pôde se conter, e ficara com ele.

Em terceiro, um frasco com um líquido borbulhante. Seu tom esverdeado vinha do ácido mais corrosivo, extraído do estômago de um dragão. Aquilo parecia salientar os olhos aguçados do Lobo, que logo o escolheu.

O Panda então aproximou-se desinteressado pronto a pegar o primeiro frasco que vira. Mas a Cobra fora rápida, e saltando a sua frente, tomou para si o frasco pelo outro escolhido. Este continha um líquido gosmento. O líquido do mais fedorento pântano existente.

Logo, o Panda nem um pouco contente, decidiu por deixar os outros dois irmãos decidirem suas escolhas, que ele ficaria com o último frasco. O que ninguém sabia, era que o Leão e o Macaco já tinham suas escolhas desde o começo. Ambos pegaram seus frascos, e o Panda pegou o último. Um vidro com um líquido transparente. Lá, estava a lágrima de uma ninfa. Salgada, fria.

O Macaco exibiu sua escolha. O frasco mais brilhante dentre todos. Aquele o qual mais atraía a atenção de todos. O mais reluzente. O frasco do pó das estrelas.

O leão por sua vez, mantinha em mãos o frasco mais belo. A cor exuberante estava contida em um frasco tapado por um pequeno coração. Sua escolha, fora a essência mais pura, do perfume mais belo. O perfume extraído do sangue de um coração apaixonado.

Na verdade, meus sete filhos possuem outros nomes, assim como minhas essências. O Coelho é a Luxúria, e seu frasco a rosa do Desejo. O Porco, a Gula, e seu frasco o precioso mel da Amizade. O Lobo é a Ira, e seu aroma o ácido do Ódio. A Cobra é a Inveja, e seu perfume o viscoso Nojo. O Panda é a Preguiça, e seu frasco a solitária Tristeza. O Macaco é a Ambição, e seu aroma a brilhante Felicidade. O Leão é o Orgulho, e o seu perfume, o mais delicioso e encantador Amor.

E eu, também não sou chamado apenas de Deus. Também sou conhecido como Humano, o filho da Verdade.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Centopéias Gramaticais

Um velho questionou-me uma vez, há muito tempo, algo de insubistituível valor. Creio que dias se passaram. Não, meses, talvez anos. Décadas ou séculos? Ah, pouco me importa, o que está dito está dito, o que está erguido não há de tombar. E as palavras; pequenas centopéias repartilhadas de segmentos de vogais e consoantes, tendo algumas patas mais tônicas ou acentuadas, ás vezes até mesmo com um mesquinho hífen intrometido, continuam a serpentilhar pelos emaranhados de minha massa cerebral. Ás vezes topam-se com alguns perdidos neurônios. Destes que cavalgam por aí em seus alazões invisíveis, em um desparar de vida-ou-morte. Quando o fato há de se ocorrer, o choque pode ser grande, até fatal. Inundam então toda a vasta extenção atraindo mais e mais rapazolas montados. Dali um evento se dá iniciado. Uma festa não seria o mais apropriado. Um debate talvez? Isto, um belo e inteligente debate. Porém, cada um daqueles jovenzinhos, guarda uma particularidade variada, no fim gerando em grande confusão. O debate se enaltece e no final, o que sobra, é apenas a bagunça, e aquele vasto cérebro que antes estava tão quieto, se torna em um borbulhar de cansaço, contaminado, pelas centopéias egoístas. Centopéias estas, que me relembro muito bem, visualizar deslizarem pela boca enrrugada daquele homem decrépito.

- Neste mundo meu caro, gosta-se daquilo que se quer gostar. Nossa mente tem a força de mover montanhas, de secar mares. Pois é ela, a grande portadora da imaginação. E o que mais são os sentimentos do que apenas ilusões mesquinhas de nossa mente egocêntrica? - Naquele momento pensei em como aquelas inúmeras gotículas de saliva que sobrevoavam minha cabeça podiam conter tanto impulso. De certo não queria prestar atenção no que o ancião proferia. Do que me adiantava, tão raparigo saber de sentimentos? Ouvi uma vez que são eles que dão forças à aquelas pestinhas de cem patas. Talvez sejam até eles que as colocam em nossa cabeça através de um buraco no canto esquerdo de nossa caixa toráxica. Mas, neste mundo há uma porção de regras. Regras estas que imagino se poderia escapar. Talvez não. Talvez sim. Mas aquele não era o momento. Como mais jovem, entre nossa diferença de seis décadas, resolvi dar-lhe ouvidos ao senhor a minha frente, mesmo que este não mais me aparentasse nada mais que um velho maracujá, já maduro demais.

- Você gosta de maçã? Pois se balança a cabeça como um não, lhe afirmo, não gostas por que não queres. Se desejasse gostar daquela maçã bem avermelhada, sentirias teu perfume no ar, e logo aprenderias a amá-la. O mesmo acontece com as pessoas. Gosta de sua mãe por que Ele lhe pediu? Ora deixe isto para os tolos. A você passo minha sabedoria. Quase sete décadas de aprendizado. Ninguém deixa de ser aluno, mas pode-se virar um professor. Como dizia, - pigarreou o homem. Um ato que me obrigara a causar certa careta de repulsa e graça contida. - não gostas de sua mãe atoa. Foi ela quem te deu carinho, quem te deu conforto. Mas fora você quem a aceitou. Quem viu que com ela, sua vida seria mais fácil. Mais fácil ainda serias se de fato amá-la. Por que não? Se obrigara então a isto. E então, dedicou-lhe-a toda sua confiança e pediu-a que tapasse seus olhos e enxergasse por você. Desde então, se ela lhe apontasse um homem qualquer na rua, e dissesse para odiá-lo, assim o faria, a não ser que tivesse outros motivos para tal. Percebes o que digo?

Naquele instante meu olhar de criança já não mais conseguia acompanhar o velho em seu discurso. Discurso que desde o começo mostrou-se um monólogo. Meus olhos sofriam com a pressão que aqueles finos e compridos cílios lhe causavam. Como ímãs que se atraíam, obrigaram-me a cerrar minhas pálpebras. Como imediata reação, minha boca se expandiu e um som gruniu da mesma. Estes eram os sinais de uma antiga e remota guerra, que dura até os dias de hoje. A guerra travada entre o sono, e a vontade de permanecer-se acordado. Pelo visto tínhamos um vencedor daquela batalha. O homem então retraiu as sobrancelhas, mas logo as amenizou. Afagou-me os cabelos e levantou-se de seu banco. - Durma meu jovem. Acho que só a vida será uma melhor professora a você. Sinto que não pude ser eu a te ensinar tudo. Durma, meu pequeno anjo.


Aquele senhor que no momento já me parecia um desconhecido, dêu-me um beijo na testa. Seus lábios secos com a idade me fizeram dizer algumas palavras inconscientemente. Imagino que tenha sido um "Boa noite, vovô". Não posso afirmar. Ali já estava entrando em mais uma fantástica viagem ao mundo dos sonhos, lendas, contos e mitos. A fantástica dimensão onde os monstros, anjos e princesas existem. Hoje, quando penso nisto, desejo com todas as forças que fosse possível viver lá. Ao menos, aquelas centopéias não me fariam tão mal. Pois lá, diferente daqui, eu optaria por torná-las verdadeiras, ou mera obra da falsidade.

domingo, 27 de junho de 2010

Começo

"Talvez, perguntaram sobre mim
Alguém de algum lugar, antes mesmo de eu nascer
Eu deixo você escolher um dos dois: Passado ou futuro
Você quer qual? Você quer qual?

Então, eu escolhi o passado
Para desejar que eu me torne uma pessoa
Carinhosa, invés de forte
Para que eu possa entender o que são lembranças

Continuando, alguém me disse
Vou deixar dois braços, duas pernas, duas bocas, duas orelhas, dois olhos
Dois corações, dois peitos e dois buracos de nariz
Não é bom? Não é bom?

Mas eu fiz um pedido
Apenas uma boca já basta
Para eu não ficar irritado sozinho
Para poder beijar apenas uma pessoa

Quero esquecer, mas não consigo, como é que eu chamo esse sentimento?

Essa pessoa mal humorada
Começou a falar novamente
O coração, mais importante,
Deixarei entre os dois peitos
Não é bom? Não é bom?

Novamente, fiz um pedido
Com licença, mas não quero o coração do lado direito
Desculpa ser muito manhoso
Porque eu consegui uma pessoa importante para mim
E para que quando eu a abrace, eu entenda que as duas pulsações estão nos dois lados do peito
O da esquerda é minha, o da direita é sua
O da esquerda é sua, O da direita é minha

Que eu consiga me perder sozinho
Que eu não consiga viver sozinho

Quero esquecer, mas não consigo, como é que eu chamo esse sentimento?
Meu peito está barulhento, mas me traz lembranças
como é que eu chamo esse sentimento?

Falando nisso, mais uma coisa
vamos dar opçoes de sabores as lagrimas
Mesmo que não exista mais nada, não há o que nos impeça também
Há pessoas que preferem não escolher por dificultar
O que você vai escolher? O que você vai escolher?

Então, eu fiz um pedido
Para desejar que eu me torne uma pessoa
Carinhosa, em vez de forte
Para que eu possa entender o que é realmente importante
Então, falando nisso, pelo menos escolha o gosto da lágrima
Com o sabor que você mais gosta
Deixando azedo, deixando salgado
Deixando picante, deixando doce
Escolha uma que você gosta
Qual? Qual?

Os seus desejos estão sendo realizados, não?
Por isso, me mostre essa sua cara de choro
Ok, me mostre com orgulho

Muito obrigado, de verdade
Causei muitas dificuldades
Mas, posso perguntar mais uma coisa?
Já nos encontramos em algum lugar?"


Por um determinado tempo, refleti a respeito do que poderia ser o começo deste blog. Decidido que seu nome realmente seria o de praxe tão usado Order Made (Oda Meido), nada como então dedicar-lhe sua letra a princípio. Uma letra a qual contêm um infundável significado diante tudo o que percorri até hoje.

Não sei o que motivara-me a criação de tal, mas pretendo por usufruir daqui com apenas uma utilidade, desabafo. Transpassar ao "papel" as idéias que tem o constante costume de martelar-me a mente. Imagino que muito provavelmente poucos, ou mesmo ninguém deva dedicar que seja um mínimo de seu tempo para ler minhas baboseiras, mas este não é, como disse, meu intuito. Contudo, se alguém ainda assim persistir na idéia, sinta-se muito bem vindo.